Essa é minha história. Não importa para mim se irá ou não acreditar nela. Também não me importo com qualquer outra coisa. Peço-lhe, apenas leia.

Vinte e dois.

   Não pensei, por um instante, após Aline ter me deixado, no que acontecera.
   Fechei meus olhos, como havia feito antes, e esvaziei minha mente de qualquer coisa que viesse a me distrair. Queria que os sentidos tomassem conta de todo o meu ser. Respirando lenta e profundamente, senti o ar abafado ao meu redor, e a brisa quente que vinha da janela aberta; concentrei-me ao máximo para sentir cada fibra de meu corpo, também - o peito se elevando e abaixando, com a respiração, a sensação das pálpebras sob meus olhos, a maciez da colcha em meu corpo nu, a pulsação dolorida incessante de meu pulso recém cortado. Apurei meus ouvidos para ouvir, ouvir tudo, porém sem prestar atenção especial em nenhum som: ouvia os carros na avenida distante, o cachorro insistente, com um latido rouco e feio, o fogão elétrico sendo acionado, e alguém conversando alegremente na rua, mesmo eu não entendendo as palavras. A vista captava exatamente aquilo que alguém vê quando está de olhos fechados - escuridão, às vezes interrompida por ondas e pulsações de luz fosca. Sentia o cheiro de meu perfume amadeirado, do perfume cítrico de Aline, de lustra-móveis, de roupa limpa e de sexo. Em minha boca, apenas o gosto de saliva.
   Posso ter ficado por horas a fio contemplando tais sensações. Não pensei em nada, não lembrei de nada - apenas pensei. Depois de um tempo considerável, adormeci, ainda sem abrir os olhos ou me mover.

2 comentários:

  1. Nossa adorei o seu texto mto bom! Parabéns pelo blog... Seguindo vc agora.
    beeijo!

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  2. Adorei...vc escreve muito bem. Continuo ansiosa pelas próximas postagens :D

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