Essa é minha história. Não importa para mim se irá ou não acreditar nela. Também não me importo com qualquer outra coisa. Peço-lhe, apenas leia.

Vinte e cinco. (Dedicado à Taís)

   Eu olhava para o céu, com Enkil ao meu lado. Era noite, não havia nuvens, e a falta de luz artificial fazia com que as estrelas ficassem bem visíveis. De onde eu estava, não conseguia ver a Lua.
   - O que vê, Horácio?
   Olhei mais atentamente. Não via nada que já não tivesse visto - céu escuro, estrelas brilhantes, constelação. Continuei analisando, procurando pelo algo que provavelmente Enkil queria que eu visse - mas nada. Sabia que iria decepcioná-lo com isso.
   - Não vê nada de especial, certo? - ele me perguntou, me dando novamente a impressão de ter acesso aos meus pensamentos, de alguma forma. - Não esperava que visse, por hora. Venha, beba mais um pouco.
   Ele se sentou ao meu lado, e me estendeu o pulso, já cortado. Levantei-me um pouco e bebi. Novamente, nenhuma imagem, e sim a mesma sensação de antes - quente e viscoso. Mais rápido que previ, ele afastou o braço de mim.
   - Agora analise o céu novamente. Comece olhando exclusivamente para apenas uma estrela, à sua escolha. Entre em seu brilho. Veja como é intensa, e vá indo para sua borda, e vendo a perca desse brilho. Consegue ver isso?
   - Sim. É como se fosse um degradê.
   - Exatamente. Agora focalize em alguma parte distante de estrelas. Focalize a escuridão, e após isso, vá se aproximando da estrela. O que vê?
   - Escuridão sendo clareada aos poucos. Consigo ver vários tons, não é mais simplesmente um plano escuro com pontos de luz. Agora vejo a mudança discreta de tons, o negro se tornando cada vez mais claro, em tons de azul, até se tornar branco.
   - E o quê você acha dessa nova visão?
   Eu estava abismado demais para responder tal pergunta. Sentia que minha visão sempre fora limitada, e agora uma nova e imensa tabela de cores estivesse à minha disposição. Fiquei cerca de quarenta minutos à observar o céu, com Enkil ao meu lado; e a cada novo detalhe - como a visão de estrelas que, ao invés de brancas, tinham uma luz amarelada ou avermelhada - apontava e exclamava, como uma criança em um parque de diversões a observar algo chamativo. Enkil apenas concordava, e às vezes esboçava um suave riso.

2 comentários:

  1. Perfeição *O*
    Parabéns, a cada capítulo você me surpreende mais e mais...
    Estou amando a história

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  2. Sem dúvida, é obra de uma pessoa muito talentosa. Sabe guiar muito bem as palavras, enriquece os detalhes e deixa a trama ser manipulada como fios de uma tapeçaria ainda por fazer. Continue assim, adoro seu blog.

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