Essa é minha história. Não importa para mim se irá ou não acreditar nela. Também não me importo com qualquer outra coisa. Peço-lhe, apenas leia.

Vinte. (Dedicado à Thavi)

   Essa primeira "sessão" com Enkil já me fez mudar. Quando cheguei em casa, percebi que estava mais quieto, mais pensativo, e que sentia uma vontade enorme de ficar sozinho. Precisava colocar meus pensamentos em ordem, precisava de silêncio e solidão.
   Cumprimentei Mario brevemente, fui ao meu quarto e encostei a porta. Deitei-me na cama, fechei os olhos e relembrei das cenas que vira ao beber o sangue, tentando me lembrar de cada ínfimo detalhe.
   Escutei que abriam minha porta. Continuei indiferente. Senti o perfume cítrico - Aline. A intromissão dela passara de "divertida" para "irritante". Me irritava ela entrar no meu quarto sem bater à porta, me irritava ela me olhar com desejo reprimido, me irritava o perfume, o barulho dos passos dela e sua respiração.
   Abri os olhos e me deparei com sua mão à poucos centímetros de meu rosto. Ela soltou uma exclamação de susto e pulou para trás.
   Uma ira totalmente desconhecida por mim invadiu meu corpo. Levantei-me, sem desgrudar os olhos dela.
   - O que quer comigo?
   Me agradava ser tão alto quanto ela. Provavelmente isso ajudava-a a esquecer que eu era consideravelmente mais novo que ela.
   - Quero que me ame - ela respondeu, com voz falha.
   Essas palavras tiveram, para mim, o mesmo efeito que um tapa. E quando lembro disso, quase acredito que até movi o rosto, como se tivesse levado um.
   Amor, amor, o simples amor, o que acontecera com ele? Com a maneira fácil de amar, amor por amor, amor por um instante, e nada mais? Sumira. Todos os conceitos, tudo, agora, parecia complicado. Era como conseguir duplicar os sentidos e o intelecto, mas não saber como usar isso.
   Sentei-me na cama, com as mãos no rosto, sem perceber tal gesto. Eu precisava dar um fim naquilo, precisava deixá-la longe de mim, precisava pensar, em paz.

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