Essa é minha história. Não importa para mim se irá ou não acreditar nela. Também não me importo com qualquer outra coisa. Peço-lhe, apenas leia.

Oito. (Dedicado à Anne)

   Eram cerca de quatro horas da tarde, eu estava no quarto de Mario, conversando sobre uma coisa qualquer, quando Aline entrou.
   - Senhor Rafael, Ícaro está no interfone, diz que espera por você lá fora.
   Ícaro? Desde quando eu conhecia algum Ícaro? Ótimo, devia ser um coleguinha qualquer que conheci por aí.
   - Mande-o entrar - eu disse.
   - Já mandei, senhor, porém ele diz que prefere falar com o senhor lá fora.
   - Certo, já estou indo.
   Mario parecia desconfiado; dei um sorrisinho para ele e saí.
   Provavelmente já sabem quem encontrei lá. Sim, o sujeito que me abordara.
   Era óbvio o motivo de não querer entrar - sempre é estranho garotos de quinze anos serem visitados por homens, mesmo que esse garoto seja eu. Sem contar que havia a possibilidade de eu ter denunciado-o.
   Eu o olhava avidamente. Não estava assustado ou com medo - tinha esperado por isso. Fui até ele e estendi a mão.
   - Prazer, Rafael.
   O sorriso dele aumentou. Ele estava usando calça jeans grossa, regata branca e óculos escuros. Sim, com certeza o mesmo homem. Ele apertou minha mão, respondendo apenas:
   - Prazer.
   Ele irradiava felicidade. Era compreensível: isso significava, afinal, que eu não denunciara-o.
   Meu desejo era dizer "o que quer aqui?" ou "o que quer comigo?", porém temia que, com isso, ele me deixasse sem responder minhas perguntas. Optei por:
   - Quer conversar lá dentro?
   Ele conseguiu sorrir mais ainda. Fez um aceno afirmativo de cabeça, e mostrei-lhe o caminho, levando-o para meu quarto, fazendo de tudo para evitar Mario.
   Pedi-lhe para entrar, fechei a porta e indiquei-lhe as poltronas fofas em frente à janela. Ele sentou-se em uma, com elegância, e esperou.
   Era a hora de encontrar minhas respostas.

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