Essa é minha história. Não importa para mim se irá ou não acreditar nela. Também não me importo com qualquer outra coisa. Peço-lhe, apenas leia.

Treze. (Dedicado à Mayara)

   Na hora combinada, Enkil veio me buscar. Me levou até um carro caro, abrindo a porta para mim. Vacilei por um momento. Sabia que estava me arriscando - mas a minha vontade de saber era maior.
   Não ouve muita conversa durante o trajeto. Ele me levava para o lado norte, por uma avenida movimentada. Aos poucos, fomos chegando ao subúrbio da cidade.
   Ele parou. Estávamos em um bairro de classe média, em frente à uma casa amarela, com portões gradeados. Pela janela que era visível lá de fora, provavelmente a janela da sala, via-se que a luz estava acesa. Será que tinha mais alguém na casa?
   - Eu moro sozinho - disse ele, para meu espanto. - Deixo as luzes acesas por segurança.
   Meu coração batia descompassado. Por um momento, senti vontade de pedir para ele me levar de volta para casa; mas ele já me dirigia para dentro da casa.
   Entramos em uma sala simples. Piso de cerâmica preto, paredes creme. A janela que eu vira do lado de fora. Dois sofás cor de vinho, poucos móveis escuros. Uma televisão, alguns livros. Nada de sobrenatural ou impressionante.
   - Sente-se - ele disse, me indicando o sofá maior. Sentei-me, ainda quieto, e ele se sentou ao meu lado.
   - O que te faz estar tão calado? - perguntou ele.
   - Não vim aqui para falar, vim aqui para ouvir.
   Ele sorriu.
   - Por onde quer que eu comece?
   - Por que me cortou, aquele dia?
   Essa não era exatamente a pergunta que se formou em minha mente. Minha intenção era perguntar "Por que eu senti aquilo quando você bebeu meu sangue?" - mas achei que essa pergunta soava idiota.
   Ele respirou fundo, antes de começar:
   - Bom, se você quer saber o verdadeiro objetivo disso, infelizmente não saberei responder. Talvez seja por prazer. Você sentiu, sabe do que estou falando - e eu realmente sabia. - Mas, como percebeu, é mais que isso.
   - Realmente. Mas eu não entendo, o que eu senti quando você...
   - Bebi - ele completou.
   - É, bebeu... Bem, não foi comum. Como...?
   - Já entendi sua pergunta. Me permite começar a explicação à partir de minha história? Ficaria muito mais organizado e de fácil entendimento.
   - Como quiser.
   - Certo. Como talvez tenha percebido, vim da França. Tenho três irmãos, que estão, no momento, espalhados pelo mundo. Somos, por ordem de nascimento: Amil, Akasha, eu e Mekare. Não sei se somos irmãos biológicos, mas fomos criados como tal. E esses, obviamente, não são nossos nomes.
   - Conheço esses nomes. São de uma história de vampiros.
   - Exato. Adotamo-os porque decidimos que assim era necessário. Dificulta nossa localização em meios de comunicação. Se alguém procurar por "Enkil bebedor de sangue", encontrará tal personagem. Nome de vampiro, atitude de vampiro. Entende?
   - Acho que sim. Prossiga.
   - Sabe quem são cada um desses personagens?
   - Sim, sei - ele fez menção para que eu continuasse. - Certo. Amil era o espírito sedento de sangue, que invadiu o corpo de Akasha, transformando-a na primeira vampira. Akasha, logo após isso, transformou Enkil em vampiro também. E Mekare é a bruxa ruiva que mata Akasha e, para não matar todos os vampiros do mundo com isso, come seu cérebro, levando para dentro de si o núcleo de Amil.
   - Muito bem. Então, como viu, todos são, de certa forma, os primeiros vampiros. Amil, o mais velho, é a fonte de tudo; Akasha, a primeira vampira e mãe de todos os vampiros; Enkil, o primeiro vampiro; Mekare, que por um ato de canibalismo, se tornou a nova mãe de todos os vampiros.
   - Voltando à minha história, agora. Fomos criados em um orfanato. Órfãos, como você. Uma das mulheres que lá trabalhava sempre nos deu atenção especial. Quando cada um de nós quatro completamos cinco anos, ela começou a nos dar do próprio sangue, uma vez por semana, na hora do banho. A sensação era exatamente a que você sentirá, em breve. Ela nos dizia que, quando crescessemos, deveríamos sair pelo mundo ensinando às outras pessoas o que ela nos ensinaria. Dizia que éramos Os Primeiros a saber Os Segredos do Sangue. Me lembro pouco dela. Ela deixou de trabalhar no orfanato quando eu tinha oito anos.
   - E então pararam de beber sangue? - perguntei. Mas eu sabia a resposta.
   - Não. Amil nos dava seu sangue. Ele já tinha quinze anos quando ela se foi, e foi o que mais aprendeu com ela. Ele nos ensinou o que não tivemos oportunidade de aprender com ela. E isso era a única coisa que nos diferenciava das outras crianças.
   - Não envolviam as outras crianças nisso?
   - Não, de forma alguma. Era algo inteiramente nosso.
   Isso me aliviou. Era terrível imaginar o contrário.

2 comentários:

  1. Continuaaaa *---*
    mt curiosa pra saber o desenrolar dessa trama e ver até onde isso vai nos levar! Vc é mesmo um escritor incriveel..parabéns (y)

    Amei a dedicação =D

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  2. Assustador, mas incrívelmente perfeito

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